"Uma proposta modesta: um rei e uma rainha para os Estados Unidos", por Nicholas Kristof

07-07-2010 07:45

 

 

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 Nicholas Donabet Kristof (born April 27, 1959 in Chicago, Illinois) is an American journalist, author, op-ed columnist, and a winner of two Pulitzer Prizes. He has written an op-ed column for The New York Times since November 2001 and is widely known for bringing to light human rights abuses in Asia and Africa, such as human trafficking and the Darfur conflict. He has lived on four continents, reported on six, and traveled to 150 countries and all 50 states. According to his blog, during his travels he has had "unpleasant experiences with malaria, wars, an Indonesian mob carrying heads on pikes, and an African airplane crash"

 

 

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«Os Estados Unidos deveriam ter um rei e uma rainha. Era bonito, dinamizava a economia, divertia as pessoas e até podia ser que funcionasse melhor em termos de política externa»

 

(9 de Junho de 2010)

 

«A campanha nacional para levar o presidente Barack Obama a exprimir emoção, atirar loiça aos executivos de petrolíferas e bater o pé de fúria saldou-se num fracasso. Mas há uma solução de longo prazo: ungimos um rei e uma rainha.
Se nos conseguirmos abstrair de Jorge III, os nossos novos monarcas constitucionais poderiam servir para nos segurar a mão, uma espécie de comandantes-em-chefe do moral e fontes de indignação nacional.
Os nossos rei e rainha poderiam passar dias a percorrer praias infestadas de bolas de alcatrão, lavando pelicanos embebidos em petróleo e levantando o queixo em ar de desafio às plataformas da BP.
Tudo isso daria tempo ao presidente Obama para elaborar uma verdadeira estratégia de limpeza. Poderia também concentrar-se na eliminação de políticas governamentais absurdas que tornam estas catástrofes mais prováveis (como o tecto de 75 milhões para danos económicos quando é uma plataforma petrolífera a responsável pelo derrame).
O nosso presidente está assoberbado por demasiadas funções protocolares enquanto chefe de Estado, como receber embaixadores e ser anfitrião de en- tediantes banquetes oficiais, que o distraem da resolução dos problemas. Podia presidir aos destinos do país ou resolver os problemas nacionais, mas é difícil arranjar tempo para fazer ambas as coisas.
Há outros países que afectam as funções protocolares a um chefe de Estado titular, sem reais poderes - uma espécie de ama ou governanta nacional.
No Japão, o chefe de Estado é o imperador. Na Alemanha é o presidente cerimonial. No Reino Unido é a rainha. O Canadá divide as funções de chefe de Estado entre a rainha Isabel (uma borla, já que as despesas dela são suportadas por rendimentos britânicos) e o seu representante, o governador-geral.
Ter por chefe de Estado uma figura meramente decorativa é também um instrumento inteligente de política externa. O presidente Obama teve de adiar duas vezes uma viagem à Indonésia e à Austrália devido às pressões da política interna, mas os monarcas dos EUA poderiam passar dias a cumprimentar multidões e a cortar fitas em novas escolas. E quando não estivessem em viagem o rei e a rainha poderiam estar ocupados a ser anfitriões de banquetes de Estado cinco noites por semana.
Há quem se queixe de não ser lógico preocuparmo-nos por Obama não mostrar as emoções. Claro que é. É ridículo termos forçado o presidente a usar linguagem vernácula na televisão ao dizer que ia dar um pontapé nos fundilhos de determinadas pessoas.
Uma das características que admiro nesta administração é a ênfase cerebral, destituída de dramas, nas provas empíricas, ao abordar questões como saúde, educação e pobreza. Trata-se de governação de adultos, de engenheiros, não de líricos dramáticos.
Mas Obama também sabe que o drama e a emoção são o combustível da política dos EUA e é por isso que tenta fingir raiva.
Stephen Colbert observou a propósito do derrame de petróleo: "Sabemos que, se se tratasse de Reagan, ele teria envergado uma tanga e, de navalha entre os dentes, teria ido ao local para esmurrar o poço de petróleo até o entupir!"
Mas sejamos realistas. A maioria dos presidentes não fica bem de tanga. E alguns podem mesmo engolir as navalhas por acidente. Daí a necessidade de monarcas atraentes para brilharem nas reportagens fotográficas.
Os críticos de vistas curtas poderão apresentar objecções mesquinhas, dizendo que a realeza não é democrática nem igualitária. Pois. Considerando que nos EUA 1% das pessoas possuem seis vezes mais dinheiro que as 80% na base da escala, eu diria que já temos uma aristocracia.
Os críticos também poderão protestar contra a despesa inerente à realeza. Mas podíamos poupar em alojamento, instalando a família real nos castelos da Disneylândia e da Disney World. Em qualquer caso, a realeza deve ser vista como um investimento capaz de gerar milhares de milhões de dólares em receitas do turismo.
Escolhendo bem e adoptando uma realeza propensa ao escândalo, podíamos imprimir a muito necessária revitalização da indústria dos jornais. Como faríamos para escolher um rei e uma rainha? Com toda a franqueza, já temos realeza: as celebridades de Hollywood. E essa gente está bem treinada a mostrar emoções e a explodir a pedido.
Imaginem-se os ratings Nielsen de um serão, ao estilo da gala dos Óscares, em que os cidadãos dos Estados Unidos escolheriam uma família real pela primeira vez, ao vivo!
As estrelas de cinema são, na sua maioria, suficientemente ricas para não precisarem de casa civil e poderia contar-se com elas para embarcarem em suficientes casos de adultério para tornar a realeza um centro de interesse picante e de entretenimento.
Também são, na sua maioria, pessoas lindas, e a termos um rei e uma rainha de tanga, com navalhas entre os dentes, melhor seria que pudéssemos apreciar as vistas.
O quê? Seria contra os nossos princípios? Não define o que somos como país?
Bem, as manifestações de raiva também não são uma característica do presidente Obama. São tão pouco representativas de quem ele é como a monarquia o é dos Estados Unidos.
Por isso é talvez melhor conformarmo-nos com o facto de estarmos fadados a ter um sistema presidencial, com um presidente meditabundo e ligeiramente entediante, que tenta resolver os problemas em vez de fazer grande alarde.

Exclusivo i/The New York Times

 

fonte:

https://www.ionline.pt/conteudo/65121-uma-proposta-modesta-um-rei-e-uma-rainha-os-estados-unidos

https://www.nytimes.com/2010/06/10/opinion/10kristof.html

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