D. Duarte e o significado do 1º de Dezembro, em entrevista ao semanário "O Diabo" a 25 de Novembro de 2008

31-08-2010 11:38

D Duarte Pio e o 1º de Dezembro, entrevista ao semanário "O Diabo"

 
 

 

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«Temos de estar sempre alerta em relação à Ibéria»





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«Temos uma democracia que não está bem assimilada. Acha-se que a democracia é colocar um papel na urna de tantos em tantos anos e é preciso uma permanente participação cívica junto das autoridades. E não é preciso ser-se generoso, basta sermos egoístas. E, neste sentido, sermos egoístas significa que estamos interessados no futuro colectivo.»


(25 de Novembro de 2008)

Entrevista ao Semanário O DIABO

Isabel Guerreiro

O DIABO — Reconquistámos a independência em 1640. Hoje, quais são as nossas maiores e preocupantes dependências?


DOM DUARTE DE BRAGANÇA — Hoje, dependemos do estrangeiro para a nossa alimentação, o que é muito perigoso. Se houver um corte nas comunicações com o estrangeiro por greves, terrorismo, guerra ou crise económica duvido que a nossa democracia republicana sobreviva.


Mais de três séculos depois do 1° de Dezembro, acha que ainda há em Portugal quem não se importava de vender a nossa independência e liberdade em troca qualquer tipo de vantagens?

D Duarte- Há alguns indivíduos mais senis ou desavergonhados que o dizem em público, mas infelizmente há outros que conduzem a política nesse sentido. Este plano já esteve na génese da revolução de 1910 financiada com dinheiro espanhol, embora de origem mal definida...


Por que motivo a data da Restauração da Independência já não é dignamente recordada?

D Duarte-É dignamente recordada pela Associação Histórica da Independência de Portugal com uma missa solene na Igreja de S. Domingos às 12.00 horas, e pelas Forças Armadas na cerimónia no Praça dos Restauradores às 16.00 horas. A Causa Real e as Reais Associações organizam o jantar dos Conjurados na véspera, dia 30. A quem quiser pode inscrever-se pelo telefone, ou pelo correio, o custo é de 30 euros por pessoa.



As manifestações do 1° de Dezembro, que desciam a Avenida da Liberdade, ficarão para sempre ligadas ao nome de Vera Lagoa... Acha que o País voltará a sair à rua como o fazia naquele dia histórico?

D Duarte-Infelizmente há quem tenha vergonha de o fazer, mas as cerimónias nos Restauradores e as que têm lugar noutras localidades têm muito significado. Se continua a haver feriado é para celebrar essa data!


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«O nosso voto não pode ser um "cheque em branco"»




É da opinião que nos últimos anos já perdemos alguns elementos importantes de soberania nacional. Além do escudo, em que outros aspectos deixámos de ser um Estado livre e soberano?

D Duarte-Se o Tratado de Lisboa não tivesse sido derrotado pelos irlandeses, a Europa caminharia para uma Federação. O objectivo dos seus fundadores era uma confederação de nações livres mas unidas no essencial. Seria importante que essa diferença fosse discutida e que a federação não pudesse ser imposta à revelia dos povos europeus.


Os políticos que representam o nosso País na União Europeia têm sabido defender os interesses estratégicos nacionais de forma eficaz?

D Duarte-Alguns têm trabalhado bem, outros consideram que estão no Parlamento Europeu só para defenderem as ideias do «partido europeu» a que pertencem. Deveriam ser obrigados a definir-se melhor antes de neles votarmos. O nosso voto não pode ser um «cheque em branco», nem é um voto para o Parlamento português...


Em Portugal, porque continuam a existir «herdeiros» da União Ibérica que ainda difundem esta corrente de federação?

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D Duarte-Há várias motivações possíveis. Alguns por fidelidade ideológica aos ideais do movimento republicano de 1910, outros devido aos interesses de certas empresas que consideram ter vantagens, e finalmente há os que não raciocinam e estão zangados com Portugal e com eles mesmos...


Ainda na semana passada, o escritor espanhol Arturo Pérez-Reverte (autor do romance «Um Dia de Cólera») defendeu a existência de uma Ibéria, um país único, sem fronteiras. Disse a propósito: «Houve dificuldades históricas que nos separaram, mas a Ibéria existe. Não é um mito de Saramago, nem dos historiadores romanos. É uma realidade incontestável que precisa de um empurrão social e não político para concretizar o projecto». Que comentário lhe merece estas afirmações?

D Duarte-É um desejo da maioria dos castelhanos desde há séculos, embora muitos finjam desdenhar e alguns mais lúcidos percebam que seria um erro se após séculos ainda não conseguiram ser aceites pelos bascos e catalães e nem mesmo por muitos galegos...
Mas temos que estar «sempre alerta» em relação a esse projecto Ibéria! Sou a favor da aliança luso-espanhola, entre duas nações que se conhecem e estimam e deveriam colaborar melhor a todos os níveis, não só entre governos. Mas para tal ser possível há que acabar com planos de domínio e de subserviência...

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«O caso do ensino é dos mais escandalosos!»



Acha que Portugal é um País que continua eternamente adiado?

D Duarte-Enquanto não desenvolvermos a nossa capacidade de raciocínio lógico e não tomarmos atitudes coerentes, os problemas não se irão resolver. Porque a base de todo o problema está na falta de coerência e na lógica das nossas atitudes. Sabemos o que queremos mas actuamos no sentido contrário. E isto a todos os níveis, desde as decisões políticas até às decisões familiares. Há uma cultura que foi desenvolvida no sentido de resolvermos os problemas pessoais e não cuidarmos dos problemas colectivos e nacionais. O abstencionismo eleitoral, o espírito de clube com que se vota sempre nos mesmos partidos, e o facto de não se pedir contrapartidas aos deputados eleitos, são tudo comportamentos que têm de ser alterados.


Que desígnios nacionais ainda existem?

D Duarte-Neste momento, existem desígnios nacionais interessantes como o reforço da Lusofonia. Nós poderíamos de algum modo beneficiar com a participação no desenvolvimento fantástico do Brasil, por exemplo. Mas os nossos recursos humanos são muito sub-aproveitados. Veja-se o caso dos professores, eles não estão a reclamar por dinheiro. Protestam porque entendem que o seu trabalho é desrespeitado, sentem-se humilhados nas escolas pela indisciplina, pela falta de autoridade e pelos incríveis programas escolares totalmente desajustados da realidade da nossa cultura. Os cidadãos gostariam de ser úteis mas sentem-se frustrados por uma falta de organização e de estrutura adaptadas às necessidades. E o caso do ensino é dos mais escandalosos! Aulas de 90 minutos? Quem foi o cretino que se lembrou disto, como é que uma criança consegue prestar atenção durante tanto tempo?

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«Tenho sempre a maior desconfiança dos investimentos públicos»



O Primeiro-Ministro defende que o investimento público é «dever do Estado» e afirma que no actual momento de crise internacional todos os governos procuram pacotes de investimento para relançar a economia. De que projectos precisa o País para restaurar o orgulho nacional?

D Duarte-Antes do orgulho nacional tem de ser restaurada a economia.
Mas os projectos têm de ser reprodutivos e cuja concretização aumente a produção de riqueza em Portugal. Ou então, que melhore a capacidade intelectual, a formação técnico-profissional, a educação dos jovens e a saúde pública... Agora fazer uma nova ponte sobre o Tejo?!
Discordo totalmente. Trata-se de um enorme investimento para trazer centenas de milhar de automóveis para Lisboa, provocar mais engarrafamentos e maior poluição. Se for preciso fazer uma nova linha de transporte ferroviário, inclusive de alta velocidade para a margem sul, que o façam então numa zona do Tejo mais estreita, lá para os lados de Santa Iria da Azóia. Tenho sempre a maior desconfiança dos investimentos públicos. Os privados investem sempre como maior rentabilidade. E de resto, vemos que o País está cheio de auto-estradas e de obras públicas monumentais, a maior parte delas com prioridades erradas. Temos mais quilómetros de auto-estradas por habitante que a média europeia e muito menos quilómetros de linha ferroviária que a média europeia, quando devia ser o contrário. Um País que não tem petróleo não devia encorajar o transporte automóvel e o investimento público é baseado em critérios errados que não levam na direcção do desenvolvimento.


Como descreve, neste momento, a auto-estima dos portugueses?

D Duarte-Na verdade, neste momento, não há muitas razões para as pessoas estarem optimistas e positivas.


Que Democracia temos hoje em Portugal?

D Duarte-Temos uma democracia que não está bem assimilada. Acha-se que a democracia é colocar um papel na urna de tantos em tantos anos e é preciso uma permanente participação cívica junto das autoridades. E não é preciso ser-se generoso, basta sermos egoístas. E, neste sentido, sermos egoístas significa que estamos interessados no futuro colectivo.


Fonte "O DIABO" de 25 de Novembro de 2008

 

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