"Casas Reais Europeias-Portugal", da colecção da revista FLASH (Maio de 2004)

A FLASH editou em 2004 uma colecção de pequenos livros sobre as Casas Reais europeias. Ao que concerne à Casa Real Portuguesa a edição contém vários erros e confusões e um discurso assente nos lugares comuns do que hoje se considera ser o movimento monárquico. Mas salva-se airosamente a parte respeitante a SAR D. Duarte Pio, pela qualidade e elegância das fotografias publicadas.Edição esgotada

OS ÚLTIMOS REIS DE PORTUGAL
DE D.JOÃO VI A D. MANUEL II

«Portugal é um acto de vontade», escreve João Bigotte Chorão na enciclopédia «Polis» na entrada de sete páginas dedicada ao nosso país. Sete páginas sobre Portugal numa obra de cinco volumes com cerca de 9 mil páginas parece ofensivo, mas em boa verdade quase que bastaria esta frase particularmente feliz, porquanto nela se encerra tudo o que se pode escrever sobre o país. Com efeito, se hoje temos as fronteiras políticas mais antigas da Europa, foi à custa de muita vontade, em rigor, de sangue e de um forte espírito bélico e guerreiro que fez com que a tudo resistissemos, mesmo entalados entre Espanha e o mar, onde afinal descobririamos o nosso destino. O sonho português de libertar-se da Europa, conduziu às navegações, aos descobrimentos, à conquista de novos mundos. Sempre, ou quase, ao serviço da Coroa e da Fé, fundamento de toda a obra expansionista portuguesa. Das naus e caravelas ao regicídio de 1908, do Estado Novo à democracia pós 25 de Abril, muita coisa mudou, sobretudo em prejuízo da causa monárquica. Ainda assim, apesar de parecer pouco plausível que 30 por cento dos portugueses simpatizem com a ideia do regresso da monarquia, como defende D. Duarte de Bragança, o actual chefe da Casa Real portuguesa, a verdade é que os monárquicos continuam activos. Especialmente o próprio D. Duarte, que levou tempo para ser levado a sério. Mas que, por via das concessões feitas à Imprensa cor-de-rosa, deixando-se fotografar e entrevistar com alguma regularidade (a contragosto da «linha dura» dos monárquicos) e do envolvimento em causas com grande impacto mediático, como sucedeu com Timor-Leste, acabou por ter algum protagonismo público e conquistar mesmo uma simpatia popular considerável.

Se é por graça ou porque alguns acreditam mesmo que ele é o legítimo herdeiro da Coroa é outra questão, mas que lhe seja feita justiça. Pode ter um perfil que não corresponde ao que muitos gostariam de encontrar num rei, pode ter opiniões discutíveis e considerar ter tido um protagonismo político (quer durante o Estado Novo, quer agora nesta última década em que se tornou conhecido) que alguns não lho reconhecem, por ser exagerado e um tanto ao quanto fantasista. Mas a vida de D. Duarte não é tão linear quanto isso e, em boa verdade, a ele se deve o contacto entre Portugal e as várias Casas Reais europeias e mesmo com o mundo lusófono em geral, sendo nesse sentido um bom embaixador do país. De resto, tem sido igualmente promotor de várias iniciativas, que embora não tenham grande espaço na agenda política têm os seus méritos, como a defesa por exemplo da arquitectura tradicional portuguesa. Quanto àquilo que o faz correr na realidade, a restauração da monarquia, é outra história, que merece uma atenção particular. Mas já lá iremos. Para já, importa tentar perceber de onde aparece este novo «rei» de Portugal, num país republicano há já quase um século, numa Nação historicamente monárquica que agora parece nada querer ter a ver com reis e rainhas, até porque paradoxalmente são muitos os monárquicos que se adaptaram bem à República e nela se instalaram, contabilizando em seu favor todas as vantangens inerentes à sua condição privilegiada.