Entrevista a D. Duarte, pelo Notícias Sabado (Diário de Notícias) a 15 de Maio de 2010

16-06-2010 02:23

 

 

 

 

 

Entrevista a SAR D. Duarte, pelo Notícias Sabado

 

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24 horas após ter dado esta entrevista D. Duarte foi recebido como um Rei em Figueira de Castelo Rodrigo num jantar medieval. Não é a única região portuguesa que reclama a sua presença nas suas terras e garante que a única câmara do Bloco de Esquerda e muitas autarquias comunistas o solicitam. No dia em que comemora o seu 65º aniversário, a cinco dias de celebrar sessenta anos do fim do banimento da Família Real Portuguesa do território nacional, por decreto de Salazar e em ano do centenário da República, o herdeiro dos Reis de Portugal comenta a situação do país, aponta soluções e assume que o regresso da Monarquia já foi uma ilusão maior do que se pensa.

 

 

 (15 de maio de 2010)

Entrevista ao Rei

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A BANDEIRA DA MONARQUIA nunca esteve tão presente em Portugal como no ano em que se comemoram os cem anos do fim daquele regime. Reconhecido em 2005 pela República como o pretendente oficial ao Trono português e legitimado como o sucessor de D. Manuel II, é na fundação com o nome do monarca que não deixou sucessor que Dom Duarte Pio de Bragança recebe a N S'. Não comenta a política oficial em questões específicas mas é sem pudor que dá soluções para a crise nacional, designadamente no que respeita aos intentos do primeiro-ministro nas grandes obras públicas. Antes de dar início à conversa, Dom Duarte faz questão de anunciar que as instalações da fundação vão ser transferidas durante algum tempo para um edifício de má memória, o da PIDE em rua próxima, de modo a poder-se recuperar o actual prédio. Explica com gestos definidos como vai ser a obra, que até possibilita a comparação entre alguma degradação que se observa no salão de entrada com a actual impossibilidade de um regime político onde seja rei e o fulgor da sede remodelada, numa altura em que crê estar tudo em aberto para num futuro próximo os portugueses aceitarem o regresso de um sistema de governação onde a sua presença não seja proibida como agora é. Preparado para evitar as rasteiras de uma entrevista, Sua Alteza - como alguém sugere ser uma das formas de se lhe dirigir - mostra a sua educação ao vir receber a equipa à sala de entrada da fundação e, enquanto não se inicia a entrevista, oferece chá, café ou um sumo. Devido à extensão da conversa, lamenta no final não se ter pensado em encomendar um almoço. No entretanto, beberica o único chá que aprecia, chá branco, enquanto explica o modo da sua preparação e como lhe chega vindo da distante China. A primeira preocupação que quer fazer chegar aos portugueses é sobre o TGV uma proposta para a qual aproveitará a entrevista.Quando chega a hora de se perguntar qual seria o seu melhor marquês de Pombal, se José Sócrates ou Passos Coelho, é cauteloso. O mesmo acontece em relação aos candidatos à Presidência da República. Prefere citar casos nas monarquias dos seus primos europeus e exponenciar o caso espanhol, país onde «os socialistas aceitaram muito bem ter um rei» e de outros «socialistas europeus que não põem em causa a chefia real do Estado». É a entrevista com um pretendente que está como o príncipe Carlos de Inglaterra impossibilitado de exercer o poder, cada um pela sua razão, mas que foi baptizado, por procuração, pelo Papa Pio XII e teve como madrinha a rainha D. Amélia.

 

Notícias Sábado-Acha que o seu filho, o infante Afonso, poderá vir a ser rei de Portugal?

 

SAR D. Duarte-O Afonso ou eu! Observem-se as transformações e as mudanças económicas que estão a acontecer na Europa e no mundo e entende-se que poderão levar a situações sociais de grande conflitualidade e de instabilidade interna que farão que o povo português queira pensar e discutir as instituições políticas que tem hoje. Nomeadamente, se é o melhor o tipo de chefia de Estado.

 

NS-Pela Constituição seria impossível. SAR-E se houvesse uma reforma constitucional que retirasse a cláusula do artigo 288.° [que especifica um Estado republicano] e permitisse a possibilidade de um referendo sobre um regime monárquico?

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NS-Crê, então, que a actual crise dá mais força à pretensão de ser rei de Portugal?

 

SAR- Naturalmente. Quando as pessoas recebem, os seus 13.° e 14.° meses e as reformas, está tudo bem e não sentem vontade em mudar qualquer coisa. No momento em que sentem que está tudo muito mal e que toda a perspectiva para o futuro pode estar a ser alterada, creio que será altura também para pensar se não há instituições políticas mais úteis do que as que temos hoje.

 

NS- Não considera, portanto, que está na mesma situação que o príncipe Carlos de Inglaterra. Lá, Isabel II não abdica, aqui, existe a República que lhe impossibilita o poder?

 

SAR- O príncipe Carlos, tal como eu, tem dado opiniões sobre muitos assuntos sociais e de ambiente que lhe interessam. Trabalhou como mineiro, agricultor e noutras profissões e conhece profundamente a vida de Inglaterra. É um pouco mal visto pelo meio financeiro e, em geral, os conservadores não gostam dele mas a juventude e os trabalhistas sim. Se compararmos, claro que tem um impacte muito maior do que eu naquilo que diz e faz mas as participações que tenho tomado na vida política e as opiniões que dou respondem por mim. Dando-as como cidadão interessado pelo país mas, obviamente, se estivesse num cargo de chefia de Estado ou de rei não o faria. Agiria como outros monarcas europeus que não debatem problemas concretos mas ajudam e colaboram com os governos ao dar opiniões positivas sobre os assuntos de fundo.

 

NS-Tal como as que tem dado sobre as energias renováveis?

 

SAR-Todo o problema do modelo de desenvolvimento do país, particularmente a preservação do ambiente e da paisagem, exige um consenso nacional.

 

NS-Propõe um Instituto de Paisagem e Ordenamento?

 

SAR- Exactamente e já o comuniquei aos membros do governo que, em princípio, pareceram-me interessados na ideia. O que hoje se defende são pormenorezinhos como a colónia de ratos, de morcegos ou de lagartixas que deve ser preservada aqui ou ali mas não é essa a abordagem correcta ao problema do ambiente.

 

NS- Noto afinidade entre algumas das suas bandeiras e as do primeiro-ministro. Existe?

 

SAR- É verdade que em muitos aspectos concordo com José Sócrates, no entanto acho que temos de encarar a questão da viabilidade económica das energias. Parece-me que as eólicas são demasiado caras e todos pagamos pelo seu consumo. Portugal poderia ter muito mais energia com custos muito baixos se não desperdiçasse uma imensa quantidade dela, bastava a renovação de equipamentos das barragens para podermos aumentar em vinte por cento a produção hidroeléctrica. Fica muito mais barato e não tem o impacte paisagístico e ecológico das novas barragens.

 

NS- Posso depreender que se a Constituição mudasse e o permitisse ser rei, José Sócrates poderia ser o seu primeiro-ministro?

 

SAR- O primeiro-ministro seria sempre escolhido pelo parlamento, como acontece nas monarquias actuais. Curiosamente, há muitas repúblicas que até há pouco tempo foram ditaduras, algumas ainda o são, mas no mundo ocidental todas as monarquias são democráticas.

 

NS- Mas o rei tem sempre uma opinião pessoal sobre o primeiro-ministro?

 

SAR- Uma opinião que em nenhum país influencia a sua escolha. Agora, na Bélgica, o governo caiu mais uma vez e é o rei que conduz as negociações com os partidos para o novo executivo. Há quem diga que na Bélgica o rei é o único belga...

 

NS- Também em Portugal atravessamos um momento político complexo em que o governo sente falta de maioria absoluta. Pode existir outra forma de governação em Portugal?

 

SAR- Sou a favor das coligações porque quando um partido está sozinho não há tanto autocontrole nas despesas e nas iniciativas. Quando discute com outro há sempre mais controlo.

 

NS- Surpreendeu-o a juventude do novo secretário-geral do PSD num partido habituado a líderes históricos?

 

SAR- Por um lado, é saudável e bom para o país que haja renovação. Por outro, é importante saber aproveitar a experiência, o conhecimento e a prudência das pessoas que têm mais idade. A experiência política é valiosíssima mas vejo algum distanciamento em relação a essas pessoas. Não é o caso de Mário Soares mas é o do professor Adriano Moreira, cujos conselhos são sempre úteis e oportunos, e de outras personalidades históricas pouco ouvidas. Penso que devíamos ter um Senado, equivalente à Câmara dos Lordes inglesa, em que personalidades que tiveram cargos importantes e por outras razões expressam as suas opiniões.

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SAR D. Duarte

 

NS- Qual seria o melhor primeiro-ministro para a Monarquia, Sócrates ou Passos Coelho?

 

SAR- Isso não posso comentar porque, efectivamente, teria de tomar uma posição sobre a governação.

 

NS- Mesmo afirmando que as monarquias na Europa têm enriquecido a democracia?

 

SAR- Estive nos 60 anos do rei da Suécia e o primeiro-ministro, que na altura era socialista, disse uma coisa curiosíssima no discurso oficial: «Sempre fomos um partido republicano mas agora chegámos à conclusão de que o rei é o melhor defensor da nossa República.» O primeiro-ministro holandês disse a mesma coisa, os ingleses dizem-no também e, hoje em dia, o socialismo europeu começa a defender os reis como protectores dos seus valores republicanos. O que mostra que o preconceito antimonárquico que ainda se vive em Portugal em certos meios políticos é do século xix, de uma época em que os reis talvez interferissem muito na vida política nacional.

 

NS- Também foi este governo socialista que fez questão de o legitimar definitivamente como o herdeiro da Casa Real.

 

SAR- O que prova a inteligência política e o pragmatismo porque a posição de muitos dos responsáveis socialistas é: se o chefe da Casa Real puder ser útil ao país vamos aproveitá-lo. O que é hoje em dia ser republicano ou monárquico? Querer ter o chefe de Estado eleito pelo sufrágio universal ou pelo parlamento, é isso ser republicano? Se é assim, há efectivamente um conflito de opiniões, mas também há muita gente que acha que ser republicano é defender os valores da independência dos poderes, da democracia e da liberdade e isso não é incompatível com ter um rei. Por isso é que os socialistas espanhóis aceitaram muito bem ter um rei em Espanha e todos os outros socialistas europeus não põem em causa a chefia de Estado real.

 

NS- Se Salazar o tivesse designado como sucessor como fez Franco com Juan Carlos...

 

SAR- Em Espanha houve um referendo antes de instaurarem a Monarquia.

 

NS- Teria sido uma solução para Salazar?

 

SAR- Se o governo de Salazar tivesse preparado a situação com um referendo e um regresso à democracia com o rei, provavelmente não teria-mos tido o drama da descolonização, porque o ultramar poderia ter caminhado para uma autonomia progressiva que o levaria a uma Commonwealth como a inglesa.

 

NS- É a sua opinião sobre a descolonização?

 

SAR- Foi a minha opinião nessa época e continua a ser. O pior que podíamos ter feito aos nossos irmãos lusófonos foi esta descolonização. Não era possível fazer pior e a prova é que lançou os países, sobretudo Angola e Moçambique, em guerras civis intermináveis; lançou a Guiné numa situação de miséria extrema e os únicos que se saíram mais ou menos bem foram São Tomé e Príncipe e Cabo Verde.

 

NS- Acha que a descolonização poderia ter acontecido de outra forma após o 25 de Abril?

 

SAR- O 25 de Abril foi necessário após o falhanço do 5 de Outubro e da revolução militar de 1926. A I e a II República falharam e foi necessária uma terceira revolução militar. Só que como estava muito controlada pela União Soviética, esta quis rapidamente aproveitar a circunstância para entregar o poder aos movimentos políticos que lhe eram simpáticos. Que, viu-se, não foram aceites pelos povos e levaram a uma situação catastrófica. [quote][b]Redes sociais «A internet provoca divórcios.»

 

NS-A Casa Real está muito moderna. Tem um bom site e até está no Facebook!

 

SAR- Essa do Facebook não é de minha iniciativa. Cria-se aí um tipo de intimidade e de relacionamento que não me parece muito normal.

 

NS- Mas representa a voz da Casa Real?

 

SAR- Sim e encontram-se lá as minhas declarações e posições. O problema é que há pessoas que ficam verdadeiramente maníacas desses meios que viciam - designadamente os adolescentes - e até provocam divórcios.

 

NS- Usa telemóvel?

 

SAR- Com moderação.

 

NS- E envia SMS?

 

SAR- Sim, uso as mensagens porque é prático, tal como troco correio electrónico com muita gente porque é mais confiável que o correio de países como Timor ou de África, onde há pessoas com quem preciso de falar.

 

NS- Se calhar ainda o veremos no Facebook mais activo?

 

SAR- Não, eu acho que os correios electrónicos normais são perfeitamente suficientes, não faz falta esse tipo de comunicação.[/b][/quote]

 

NS- Seria possível outra descolonização?

 

SAR- Sim, o general Spínola tinha proposto referendos e o Movimento das Forças Armadas prometeu uma transição democrática que levaria a referendos em Angola e Moçambique. Ou melhor ainda, a uma eleição para um parlamento nacional ou local que pudesse definir o futuro dos territórios. A entrega do poder aos movimentos guerrilheiros não podia ser pior. Na altura apoiou o Movimento das Forças Armadas e a Junta de Salvação Nacional! Apoiei o general Spínola, em quem tinha toda a confiança, e a junta porque era constituída por gente de grande capacidade e calibre. Só que foram ultrapassados! Ainda estão por abrir os arquivos soviéticos da época e descobrir o que de facto aconteceu. Valia a pena ir a Moscovo aos arquivos do KGB, até porque uma parte dos arquivos da DGS [ex-PIDE] foram lá parar também.

 

NS- Onde estará a sua ficha por causa de actividades «revolucionárias» em Angola?

 

SAR- Também lá a devo ter, exactamente.

 

NS- Portanto, se Salazar o tivesse escolhido teria alterado o percurso histórico de Portugal?

 

SAR- Imediatamente e teria sido uma solução que evitaria todo este caos que sofremos em seguida.

 

NS- Espanha fez o referendo. No actual Portugal, há quem o peça. Acha que a hora do referendo vai chegar?

 

SAR- Primeiro é preciso que se retire da Constituição o artigo 288.°, alínea "b", que impõe como inalterável a forma republicana de governo e que os monárquicos propõem que seja substituído pela forma democrática de governo. Aliás, na última revisão constitucional, a maioria do parlamento quis aprovar essa medida mas não se chegou aos dois terços necessários.

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NS- Agora, o PSD tem Paulo Teixeira Pinto, um fervoroso monárquico, a redigir uma revisão da constituição. Abrir-se-á uma porta para o referendo?

 

SAR- Esse é um tema que devia interessar não só a monárquicos mas a todos os verdadeiramente democráticos. Quem é a favor da democracia não pode dizer que a capacidade de escolha do povo português tem de ser impedida pela Constituição. Além de que é um insulto aos países da União Europeia que têm reis e rainhas - como os suecos e holandeses - pois estamos a dizer que são povos atrasados porque têm um sistema de chefia de Estado inaceitável em Portugal.

 

NS- Se o PSD for governo esse cenário poderá ser possível?

 

SAR- Se tiver o apoio de uma parte, pelo menos, do PS.

 

NS- E poderá vir a acontecer?

 

SAR- Espero que sim e cada vez mais a nossa maturidade democrática avança nesse sentido.

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NS- Viveu toda a vida num regime republicano. Consegue vislumbrar um Portugal onde possa a existir a Monarquia?

 

SAR- Não vejo porque não. O problema é a maioria dos republicanos não terem argumentos mas preconceitos e é muito difícil discutir preconceitos. As pessoas dizem que não gostam da Monarquia porque é um retrocesso ou um regime pouco democrático mas tais afirmações são erradas se fizermos uma análise política contemporânea. Até se compararmos o Portugal do século XIX com países da Europa vemos que éramos tão democráticos como a grande maioria deles, ao contrário de países menos democráticos do que nós e mais importantes, como o império alemão. Se actualmente as monarquias são mais avançadas do ponto de vista democrático e até económico, social e humano é devido à estabilidade que a Monarquia lhes proporcionou.

 

NS- Espanta-o o hastear recente de bandeiras monárquicas em Lisboa?

 

SAR- Apenas mostra que há insatisfação em sectores da juventude. Nunca achei graves esses actos, até porque nunca houve falta de respeito para com a bandeira nacional actual nem uma bandeira republicana descida do seu mastro. Ou foi a da Câmara de Lisboa ou, no caso do Parque Eduardo VII, nem estava lá a bandeira. A que foi hasteada era uma bandeira nacional, a azul e branca como a de D. Afonso Henriques ou de D. João I, que merecem as mesmas honras e têm a mesma dignidade segundo a lei.

 

NS- Viu as imagens da bandeira da Monarquia no alto do Eduardo VII?

 

SAR- Sim, até fui lá ver.

 

NS- Sentiu uma antevisão?

 

SAR- Esteticamente é lindíssima e não há dúvida de que os céus de Lisboa ficaram com uma imagem belíssima. Refira-se que a antiga comissão oficial nomeada para desenhar a nova bandeira da República propôs a azul e branca sem a coroa e com um conjunto de estrelas que representavam os territórios ultramarinos. Foi a comissão oficial! Esta bandeira foi imposta pela Carbonária, um movimento terrorista da época mas que conseguiu a revolta republicana. Para além do mais, tem um significado bastante perverso e perigoso, porque a Carbonária era a favor da federação ibérica e, de algum modo, o vermelho na nossa bandeira representa Espanha. Por isso é que o vermelho é maior que o verde [de Portugal] e não faz sentido dizer que era porque havia muito mais sangue do que esperança.

 

NS- Porque é que afirmou que os manuais de História apelam ao fim da independência?

 

SAR- Os nossos manuais são, indirectamente, responsáveis por não glorificarem a História de Portugal. Acentuam aspectos negativos e diminuem a nossa auto-estima. Ao fazerem-no favorecem a rendição de Portugal aos interesses estrangeiros em vez de aproveitarmos a nossa história.

 

NS- É mais um exemplo do falhanço da República?

 

SAR- É uma manifestação do falhanço do nosso regime actual.

 

NS- Por isso é que no site da Casa Real se reproduz uma entrevista do historiador e «perigoso» bloquista Fernando Rosas em que diz que a República falhou?

 

SAR- Não concordo com a maior parte das posições do Bloco de Esquerda mas tenho no Bloco bons amigos e pessoas que admiro, tal como no Partido Comunista e em todos os sectores. Aliás, a câmara do Bloco de Esquerda [Salvaterra de Magos] e muitas câmaras comunistas convidam-me para visitas oficiais várias vezes, assim como câmaras CDS e PSD. Nos últimos anos devo ter visitado cerca de 150 municípios a convite dos seus presidentes.

 

NS- O único comunista que não se dá bem consigo é José Saramago?

 

SAR- Não posso concordar com o que ele diz na maior parte dos livros, nem com o que afirma sobre Espanha - que é melhor sermos espanhóis. Com algumas excepções, não posso apontá-lo como um modelo da boa escrita portuguesa mas há uma coisa que admiro nele, a capacidade de promover a literatura portuguesa no mundo e a persistência e a continuidade com que defende as suas ideias, mesmo quando já estão manifestamente ultrapassadas.

 

NS- Saramago diz que como não leu o Memorial do Convento não o poderia criticar.

 

SAR- Nós já fizemos as pazes e ficou muito satisfeito com a minha resposta simpática no Diário de Notícias.

 

NS- Mas acha que o Memorial do Convento é, como disse, uma «grande merda»?

 

SAR- Não, o que eu verdadeiramente não gostei foi do que disse sobre a Virgem Maria. Quando diz que Cristo é um bastardo, enfim, cita aquela fábula antiga que ainda hoje é seguida por muita gente, a de que Cristo foi uma aventura da Virgem Maria. Não gostei, evidentemente, e no Memórial do Convento há umas fantasias políticas e históricas um bocado ofensivas.

 

NS- Aquela caracterização um pouco violenta que lhe é atribuída foi uma resposta real?

 

SAR- Foi uma resposta espontânea quando um jornalista me apanhou à saída de um jantar... Mas a maior parte dos comunistas são patriotas e não é por acaso que Saramago está muito desiludido com Portugal.

 

NS- Álvaro Cunhal também era patriota?

 

SAR- O Álvaro Cunhal era mais um internacionalista, que seguia o ideal marxista-leninista e o internacionalismo soviético. Se tivesse tomado o poder em Portugal teria sido um desastre. NS- Não haveria Monarquia, decerto? SAR- Haveria fuzilamentos e perseguição política. Tem o mérito de ser um homem de ideais e de ter lutado mesmo que eu não concorde com eles. Julgo que a razão da adesão de uma grande parte do país, o Alentejo, aos ideais comunistas tem que ver com um facto muito interessante: até ao século XIX o Alentejo era governado pelos conventos e mosteiros, nos quais se vivia uma vida comunista. Com o liberalismo, as terras foram roubadas aos conventos e compradas por gente de Lisboa, que meteu lá capatazes que oprimiram e exploraram o povo alentejano. Muitos historiadores comunistas concordam comigo de que isto explica de facto a adesão do povo alentejano ao ideal comunista. NS- Vejo na sua reflexão uma análise marxista... SAR- A análise marxista não está errada em todos os aspectos, a prática marxista é que tem sido sempre desastrosa porque baseia-se numa utopia que é incompatível com o comportamento humano. O regime comunista foi o maior desastre do século XX, junto ao regime nazista, só que este durou poucos anos e não teve ocasião de fazer tantos estragos como o comunista. O certo é que o idealismo dos comunistas pode ser posto ao serviço de boas causas, tal como a protecção do ambiente e a protecção dos valores locais. NS- Quando refere a utopia comunista não a compara à monárquica? SAR- Não, porque vemos como funcionam bem onde existem. Utopias são regimes que funcionam mal quando estão no poder. NS- Foi por essa razão que Guerra Junqueiro, em 1911, disse que se se fizesse um plebiscito haveria menos republicanos que antes do 5 de Outubro? SAR- Neste momento a maioria das pessoas não tem uma opinião fundamentada sobre esta alternativa porque não sabem quais são as diferenças e não observam o resto da Europa. Mas a quantidade de pessoas que concordam que um rei seria melhor que um presidente da República para Portugal é muito grande. NS- É por isso que defende que dos dez milhões gastos para fazer as comemorações do Centenário da República, um milhão deveria ser para a reposição histórica? SAR- É preciso um debate e um estudo sérios sobre o que é que aconteceu na altura e o resto devia ser usado em homenagem aos idealismos do 5 de Outubro, porque os ideais dos revolucionários até eram muito bonitos. Pode-se fazer uma homenagem a essa gente utilizando a verba para fins úteis, concretos e importantes! Estou é preocupadíssimo com a falta de integração cultural e profissional dos filhos dos imigrantes, com o facto de termos regiões inteiras que estão marginalizadas do desenvolvimento humano e económico e com a falta de preservação da língua portuguesa na Guiné, em Moçambique e Timor. Acho que isso devia preocupar-nos bastante.

 NS- A questão da educação preocupa-o? SAR- Preocupa-me muito e tenho aproveitado a experiência das escolas João de Deus para ir ver o trabalho que fazem nos bairros suburbanos de Lisboa. Desse modo, vejo a utopia que é o nosso sistema oficial de ensino, cheio de bons ideais mas muito desajustado das realidades que a nossa juventude necessita. Por isso é que temos os piores resultados escolares da Europa. NS- Acha que se devia avançar com medidas rápidas? SAR- Sim. Primeiro, dar aos professores segurança e garantia para que o sistema escolar funcione e rever os programas que estão muito desajustados. Vejo essa situação porque todos os dias tento acompanhar os meus filhos nos estudos e fico revoltado com os programas, nomeadamente no Português e na Ciência. Quando falo com os professores do ensino público, concordam que estamos a criar uma geração de ignorantes com consequências gravíssimas para o futuro do país. [quote][b]União Ibérica «É um pouco estúpido querer aquilo de que tantos espanhóis estão a tentar libertar-se.»[/b] NS- A questão da União Ibérica tem estado em foco e 42 por cento dos portugueses mostraram-se disponíveis. Qual é a sua opinião? SAR- Essa resposta de algumas pessoas tem que ver com a revolta contra a situação em que vivemos e é uma forma de protesto violento por causa dos seus problemas. Não acredito que seja mesmo a opinião das pessoas! A resposta que daria é: oiçam os catalães, os bascos e os galegos, que explicarão o agradável que é ser dominado pelos castelhanos. Eu sou grande admirador do espírito castelhano mas quando se põem a mandar nos outros povos, o resultado é desastroso. Aliás, o grande triunfo da Monarquia em Espanha foi exactamente as autonomias que permitiram às regiões espanholas não serem, de algum modo, dominadas por Castela. É um pouco estúpido da parte de certos portugueses quererem aquilo de que tantos espanhóis estão a tentar libertar-se. NS- Se a Monarquia voltasse, seria intolerante numa integração ibérica? SAR- A Bélgica, o Luxemburgo e a Holanda vivem num sistema muito integrado há muito tempo, o Benelux, e anterior à União Europeia. Só que como são três monarquias, nenhum desses povos sente que está a perder independência ou identidade porque tem o seu próprio rei. No nosso caso, uma república fraca ou instável juntar-se a uma Monarquia forte seria efectivamente a perda de soberania e um caminho perigosíssimo para os interesses dos portugueses. Duas monarquias podem-se juntar e colaborarem muito bem mas uma Monarquia e uma república é a história do pote de barro e do de ferro que estão na mesma carroça. Se achamos que precisamos de estrangeiros para nos ajudarem a sair da situação em que estamos, não me incomodava que o ministro das Finanças fosse um alemão e o da Tecnologia um japonês... Isto é uma caricatura, mas haver técnicos alemães ou japoneses a aconselharem a nossa administração já vejo bem.[/quote]

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NS- Considera que o país está mais preocupado com as causas fracturantes do que com a realidade? SAR- Claro! Tornar obrigatório o ensino da educação sexual resume-se a dizer: fomiquem à vontade, divirtam-se, façam o que quiserem mas com higiene. Praticamente é só isso, em vez de dar referências éticas e morais em relação ao desenvolvimento de uma sexualidade saudável. Ao mesmo tempo, desencorajam-se as aulas de educação moral e estamos a dizer que a moral não tem importância, que só a sexualidade livre é fundamental para a felicidade dos portugueses. NS- Há questões, como o divórcio, que na Monarquia seriam impossíveis! SAR- Hoje em dia é mais fácil despedir a mulher ou o marido do que um funcionário de uma empresa. Ora, a estabilidade de um emprego não é mais importante do que a estabilidade da família. NS- A questão do aborto também... SAR- A lei do aborto livre é para muitos uma lei que escraviza as mulheres porque hoje ela pode ser obrigada a abortar pelos patrões, amantes e pais. Esta é a situação de muitas mulheres, pois é raro que queiram abortar por vontade própria. Esta lei, que as escraviza, é ultraliberal e ultracapitalista e não percebo como é que a esquerda em Portugal apoia isto. NS- Uma esquerda que também apoia o casamento homossexual.., SAR- Esse é um problema mais complicado porque há uma confusão entre o direito a viver junto, a ter alguns benefícios fiscais, a ter certo reconhecimento legal para pessoas que querem partilhar a sua vida e que muitas vezes até podem ser duas velhas amigas, vizinhas ou irmãos. A legislação sobre o casamento tem basicamente o objectivo de proteger as crianças e creio que não se devia confundir o casamento como unidade que pode produzir uma futura geração, educá-la e ter responsabilidades nela, com as uniões de facto que podem ser aquelas que interessam aos homossexuais. Dizia alguém - a brincar claro - que hoje os padres e os homossexuais é que se querem casar, os outros preferem as uniões de facto porque dão-lhes menos responsabilidades. NS- A sua mulher, Isabel de Herédia, está um pouco desagradada pela religiosidade europeia. Diz que está adormecida e que as pessoas têm vergonha. Partilha dessa opinião? SAR- Há muitos países europeus hoje onde se pode dizer que há mais muçulmanos praticantes do que cristãos. Felizmente não é o caso de Portugal, onde o cristianismo ainda é bastante praticado. Talvez a maioria dos portugueses o faça só um pouco formalmente mas ainda assim teremos uns vinte por cento de portugueses regulares na religião. No entanto, há países onde se leva mais a sério a religião enquanto em Portugal as pessoas substituíram a Igreja pelos hipermercados. Não é positivo, mesmo para quem não tenha fé. [quote][b]Obras públicas «TGV sim mas sem a terceira travessia do Tejo.» NS- É a favor do TGV? SAR- Sim e acho indispensável termos uma ligação ferroviária em bitola europeia com a Espanha e o resto da Europa. No entanto, penso que poderíamos economizar mais de metade dos custos de ligação com Espanha - mais de dois mil milhões de euros - se não fizéssemos a nova ponte e utilizássemos antes uma das estações da Fertagus na margem sul para efectuar a ligação das redes ferroviárias do Algarve e dos comboios que andam à volta de Lisboa. Pouparíamos mais de metade dos custos e evitaríamos um enorme atentado paisagístico em Lisboa que esta ponte irá provocar. Outro aspecto gravíssimo é o de a ponte impedir a navegação dos navios grandes para o mar da Palha e desactivar todo o enorme potencial do porto de Lisboa. Acho que há todas as vantagens em evitar esta nova ponte e seria uma maneira de o governo e a oposição chegarem a um acordo: manter-se o compromisso de fazer a linha de alta velocidade e diminuir o investimento necessário. NS- As obras públicas que o governo pretende e que a oposição critica são uma solução para a crise económica? SAR- Há imensas pequenas empresas em Portugal que poderiam ser encorajadas a aumentar e substituir as importações, que é o que precisamos para poder diminuir a dívida externa. Por outro lado, se as empresas de construção civil trabalhassem no restauro das áreas degradadas das cidades dariam mais emprego e seria um investimento que ficaria em Portugal em vez de em parte ir para o estrangeiro, como acontecerá com as grandes obras. NS- Como é o caso do novo aeroporto? SAR- Se me provarem que o novo aeroporto é indispensável, tenho de o aceitar. Neste momento creio que não é, nomeadamente aproveitando a área da base militar do Figo Maduro, que pode ir para Beja, e com o desvio para o Porto de parte dos voos intercontinentais para as Américas. Até se beneficiaria do mercado da Galiza! Todos os estudos feitos por quem percebe de aviação dizem que não há razão, hoje em dia, para fazer um novo aeroporto.[/b][/quote] NS- A Senhora Dona Isabel também diz que se pode ser intelectual mas tem de se ser laico. SAR- Existe essa mania da parte de muitos intelectuais mas o Papa tem escrito livros interessantíssimos sobre o conciliar da fé com a inteligência e a lógica. Tem tentado mostrar que a espiritualidade e a lógica convivem e diz que a Europa é o fruto do espírito lógico grego e da espiritualidade judaica. Somos filhos dessa realidade e se a recusarmos corremos o risco de ter uma Europa sem bases espirituais, podendo facilmente cair em extremismos. NS- O que sentiu ao acompanhar Bento XVI à Terra Santa? SAR- Tive um privilégio que gosto muito de lembrar quando estou com os meus primos, chefes de casas reais e reis, para ser um pouco snob com eles. Um momento que nunca conseguiram ter, tal como um almoço com o Papa e meia dúzia de pessoas em Jerusalém, na residência do patriarca latino, onde o Papa fez o elogio de Nun'Álvares ao dizer que foi o santo que mais gostou de canonizar. Refira-se que hoje há muita gente, entre palestinos e israelitas, que acham que São Nuno podia ser um modelo para os palestinos porque lutou pela liberdade do seu povo. NS- Crê que o conflito israelo-árabe terá um fim? SAR- É indispensável. Os israelitas vão ter de encontrar uma forma de viver pacificamente e colaborarem com os vizinhos árabes. Não é possível continuar com uma situação que põe em risco o próprio futuro do Estado de Israel e a paz de todo o Ocidente! Nós, ocidentais, sentimos uma afinidade com a emigração europeia que foi para ali - que são os israelitas hoje - e se estabeleceu na terra que era dos antepassados mas este não pode ser um motivo para haver um conflito. NS- A administração Obama poderá inverter essa situação? SAR- Tem mostrado grande vontade de resolver o problema. NS- No entanto, mantém grandes efectivos militares no Afeganistão e no Iraque! SAR- É uma questão de segurança regional. Só quando esses países tiverem condições de garantir a sua própria estabilidade e segurança é que se podem vir embora. NS- Foi uma invasão que gerou uma onda de terrorismo violentíssima. SAR- Essa é uma situação muito perigosa porque, por exemplo, um palestino que tenha perdido tudo, que veja a sua terra, a quinta e a casa ocupada por outras pessoas, não tem mais nada a perder. Ainda por cima se lhe dizem que ao morrer pela liberdade da sua fé tem uma vantagem espiritual! [quote][b]Eleições presidenciais «Tenho estima pelos três candidatos.»[/b] NS- Vai votar nas eleições para a Presidência da República? SAR- Não voto por uma questão de princípio porque acho que o sistema republicano de chefia de Estado não é o melhor. Por outro lado, também é por uma questão de não tomar partido. Ainda por cima, neste momento é uma situação delicada porque os três candidatos são pessoas por quem tenho muita admiração e estima. NS- Ronald Reagan sugeriu que se deveria candidatar a Presidente. Admite-o? SAR- Disse isso num jantar que tivemos na Casa Branca: «Eu sei que o senhor pode ganhar.» Na altura achei a ideia muito interessante e quando cheguei a Portugal reuni o meu conselho privado para lhes perguntar a opinião, mas quase todos foram contra. No entanto, ainda hoje há no conselho privado uma pequena minoria de pessoas que considera que seria uma boa alternativa. NS- Se concorresse, qual seria o candidato que seria mais difícil de derrotar? SAR- Se concorresse, a minha posição tinha de ser de simpatia pelos outros candidatos e, principalmente, explicar as vantagens da chefia de Estado real. Como isto não está em questão, não vale a pena falarmos do assunto. NS- Qual será o desfecho deste confronto eleitoral? SAR- As pessoas deveriam ter vários motivos para escolher um presidente: os seus ideais; a capacidade de ver o Portugal do futuro; o pragmatismo; ponderar quem é que pode ser mais eficiente para colaborar com os governos e ajudá-los a governarem bem e a controlá-los. Não deveria ser a simpatia pessoal... E, depois, há uma maioria que não vota, como se tem visto pelo abstencionismo, porque acha que não é importante: nas europeias sessenta por cento não votou e nas últimas legislativas houve quarenta por cento de não-votantes. Provavelmente por não se sentirem representados pelos partidos em jogo ou porque não acreditam de todo na democracia actual da República.[/quote] NS- Preocupa-o o avanço do islão na Europa? SAR- Que é deliberado, pois a política das famílias numerosas é uma tentativa de controlar a Europa do futuro. E, pelo caminho da demografia actual, vão consegui-lo porque nós matamos os nossos filhos aos milhares pelo aborto. NS- Em 2005 reclamava da falta de liberdade de imprensa em Portugal. Ainda a sente? SAR- Para os jornais a liberdade é total mas há grandes sectores da população portuguesa sem acesso à informação. Pode-se dizer que boa parte dos portugueses não se sentem representados na informação que temos e acham-se marginalizados. É o que vemos nas campanhas políticas, quando há ideias muito interessantes em pequenos partidos que são abafadas. NS- Tal como as ideias do Partido Popular Monárquico? SAR- Nos últimos anos, essas são bastante desastrosas e a principal campanha do PPM tem sido atacar--me! Acho que os movimentos e partidos ecologistas mereciam mais destaque porque estão empenhados num dos grandes problemas do nosso futuro. Acho que não se defendem no parlamento os pontos de vista católicos. Não vejo um deputado africano no parlamento, ou de origem cigana. A representação dos portugueses está muito desequilibrada. NS- Foi sensível às escutas de Belém no Verão passado. Ainda não tem problemas em falar ao telemóvel? SAR- Não me importo que me escutem e acho que os políticos também não deviam importar-se. Há assuntos que têm de ser segredo de Estado, mas esses são poucos. Quanto às conversas particulares dos políticos, creio que não deviam ser consideradas impróprias de consumo do público. NS- É a favor da revelação destas escutas do caso Face Oculta? SAR- Não sei se há segredos de Estado verdadeiramente importantes nessas escutas que não deviam ser divulgados. Segredos que ponham em causa a nossa defesa, a segurança e a economia. Se houver casos desses, aí sim. NS- E se não existirem? SAR- Se não existirem não há motivo para não serem revelados. NS- Concorda com a destruição das escutas ao cidadão José Sócrates? SAR- Realmente não sei o que é que lhes aconteceu mas tenho impressão de que há alguns jornais que as têm. NS- Deveriam ser tornadas públicas? SAR- Há outro aspecto a considerar, o caso de expressões e frases que se dizem numa conversa particular e que não ficam bem expostas em público. NS- Mas sendo essas palavras menos próprias limadas, acha que os portugueses têm direito a saber? SAR- Pelo menos as comissões parlamentares deviam porque o parlamento é o órgão que representa o país. NS- Considera que o papel da imprensa na revelação dos altos salários e bónus é importante? SAR- Tem sido útil e muito bom porque se a imprensa não falasse de muitos desses aspectos o país nada saberia. E isso em democracia não pode acontecer. NS- Faz hoje 65 anos. Preocupa-o a idade? SAR- Principalmente estou preocupado em conseguir manter o ritmo dos meus filhos. Não quero ser ultrapassado por eles nas provas físicas, nos passeios de bicicleta e noutras coisas. Claro que qualquer dia o vou ser, mas quanto mais tarde, melhor!

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[quote]Futebol «Desagrada-me o desporto como circo.» NS- Qual é o seu clube? SAR- Em criança gostava muito do Benfica, porque era o clube que tinha só jogadores portugueses. Mais tarde interessei-me pela Académica porque era mais amador e estava a viver perto de Coimbra. Hoje em dia acho que os grandes clubes deviam dedicar-se mais ao desporto, serem grandes mobilizadores da prática desportiva no país e menos do espectáculo. Desagrada-me o desporto só como circo, embora tenha o seu papel social. NS- Acompanhou a luta entre o Benfica e o Braga? SAR- Lembro-me de que, em novo, os jogos que mais gostei de ver foram entre o Porto e o Braga e entre o Guimarães e o Porto. Acabavam sempre em grandes cenas de pancadaria, era animadissimo e eu adorava aquilo. Tal como me lembro daquelas touradas em que o touro saltava para a área do público e corria atrás de toda a gente. Infelizmente, hoje em dia está tudo excessivamente regulado. Mas o que mais me irrita é a corrupção e as negociatas do futebol, um pouco como a mentalidade actual de que tudo se compra e tudo se vende. NS- Não revelou o seu clube de futebol? SAR- Não tenho. NS- Mas vibra com algum? SAR- Quando Portugal joga com o estrangeiro fico muito entusiasmado e espero que na África do Sul possa acontecer algo bom. [/quote] texto:João Céu e Silva fotografia: Orlando Almeida/Global Imagens fonte:"Notícias Sábado" 227, 15 de Maio de 2010

 

 

 

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